23 de agosto de 2016

Duas e quarenta e nove

Toda a gente paga a vida em sangue, lágrimas e suor.

Bem sei que preferias o sangue dos lábios mordidos, as lágrimas de alegria e o suor da excitação.

Mas são tão poucos os momentos. E surge-te o sangue escondido nas lágrimas por cada vez que tropeças na pessoa errada e ela sangra-te os lábios vezes a menos para a dor que te rouba enquanto se transforma apenas em mais uma desilusão.

Fosse o suor da pele salgada dela junto ao teu corpo em vez das noites mal dormidas com a consciência tolhida pelo mal que um dia te fez. E o bem que fez, mas já não faz.

E as lágrimas. Tu já mal te lembras de como te fazia chorar a rir e enchia o teu peito de luz a cada gargalhada que te arrancava. Mas ainda hoje reconheces o sabor salgado de cada lágrima que engoliste quando ela te deixou desfeito no chão.

Então esfolas os joelhos e sangras ao tentar apanhar os pedaços do chão.

E choras sempre que pegas mais num e recordas o que um dia já foi.

E suas. Porque a cada pedaço que apanhas deixas cair outros tantos e a luta parece infindável.

Mas lutas. Porque a vida se paga em sangue, lágrimas e suor.

E tu queres tanto. O sangue dos lábios mordidos. As lágrimas de alegria. O suor da excitação.

Todos no corpo da próxima mulher que talvez um dia não te parta o coração.

30 de maio de 2016

Zero e quarenta e três

Desliga.

As luzes, os ruídos, as interferências.
O telemóvel, o computador, a televisão, a merda das redes sociais. Que se foda. Desliga.

Esquece. Apaga. Desliga.

Respira.


Sente-te. Toca-te.

Ainda te lembras?

Ainda te lembras de ter consciência de ti mesmo? De sentir algo por mais de trinta segundos?
Sem imagens, sons, palavras cruzadas. Interferências.


Disrupção.

Rasga. Rompe. Desliga.

Respira.


Larga a merda da vida lá fora. Larga tudo e agarra-me. Abraça-me. Inspira. Expira. Arrepia-me.

Quero voltar a sentir. Quero sentir-te. Desliga.


Liga-me. Que se foda.