23 de agosto de 2016

Duas e quarenta e nove

Toda a gente paga a vida em sangue, lágrimas e suor.

Bem sei que preferias o sangue dos lábios mordidos, as lágrimas de alegria e o suor da excitação.

Mas são tão poucos os momentos. E surge-te o sangue escondido nas lágrimas por cada vez que tropeças na pessoa errada e ela sangra-te os lábios vezes a menos para a dor que te rouba enquanto se transforma apenas em mais uma desilusão.

Fosse o suor da pele salgada dela junto ao teu corpo em vez das noites mal dormidas com a consciência tolhida pelo mal que um dia te fez. E o bem que fez, mas já não faz.

E as lágrimas. Tu já mal te lembras de como te fazia chorar a rir e enchia o teu peito de luz a cada gargalhada que te arrancava. Mas ainda hoje reconheces o sabor salgado de cada lágrima que engoliste quando ela te deixou desfeito no chão.

Então esfolas os joelhos e sangras ao tentar apanhar os pedaços do chão.

E choras sempre que pegas mais num e recordas o que um dia já foi.

E suas. Porque a cada pedaço que apanhas deixas cair outros tantos e a luta parece infindável.

Mas lutas. Porque a vida se paga em sangue, lágrimas e suor.

E tu queres tanto. O sangue dos lábios mordidos. As lágrimas de alegria. O suor da excitação.

Todos no corpo da próxima mulher que talvez um dia não te parta o coração.