31 de março de 2013

Dezassete e cinquenta e dois

E ela, via-se, estava destruída por dentro.
As lágrimas secas no rosto, a busca desesperada por uma solução expressa na força com que agredia o teclado.

Não, ele não podia desistir.
Porque desistir é a única coisa que ela não sabe fazer, a única coisa a que não se permite.
E ele não pode desistir por ela, sem chance, sem solução.

Não seria só o fim deles. Seria o fim dela enquanto a mulher que sempre foi.
O fim... o fim só pode vir quando é a única opção.

24 de março de 2013

Dezanove e cinco

Passei a noite a alucinar.

Não sei se de febre, se do bloqueio de que sofriam as minhas vias respiratórias, se da ansiedade de saber que não ia poder descansar ao fim da noite ou se da vontade de ser salva. De ser resgatada e transportada dos meus lençóis para os teus.

Mas sonhei acordada, acho.
Que eu, imobilizada na cama, pelas dores e pelo cansaço, era tratada por uma enorme população de gente pequenina e amigável. Eles tinham um objectivo, que nunca percebi bem qual.

Quero acreditar que era levar-me até ti. Ou tratar-me como tu tratar-me-ias.

14 de março de 2013

Duas e quarenta e três

Talvez não sejam só coisas más.
Não seja um constante sentimento de vazio, de insuficiência, de impotência, de cegueira, de distância.
Não.

Talvez seja mais que isso.
Talvez seja o espaço para respirar e planear, sentir a saudade que só chama quem importa, perceber a ausência de detalhes em que mal havíamos reparado.

Há espaço para mais.
Para entender a vontade que permanece depois de quase esquecido o toque, de conversar mais, de conhecer mais, de compreender mais.

E de ceder mais.
Porque o que te faz entender é o braço que, constantemente, dás a torcer.
Sem dor, mágoa ou ressentimento. Sem pedido.
Com vontade. E com amor.

A distância levou-nos por caminhos que provavelmente não teríamos percorrido na presença.
Por caminhos onde, quase sozinhos, os planos se desenham, ao sabor das convergências e divergências, do desejo de ter, do desejo de proteger, do desejo de ser protegido, do desejo de se ter ao lado alguém querido. Um amigo. Um confidente.

Provavelmente, se cá estivesses, já eras passado.
Uma cama quente, umas semanas perdidas, mas agradáveis.

Talvez ainda fosses a melhor pessoa que conheço ou pensei conhecer.
Porque conhecer-te, só percebi mais tarde, havia de ser muito mais difícil que o parece.
Conhecer-te exige o tempo de quem se dedica a abrir aos poucos um cofre fechado a sete chaves.
Conhecer-te exige a simplicidade de espírito necessária para desconstruir o complexo.

Talvez ainda fosses o melhor homem que passou pelas minhas mãos.
Mas não serias o homem da minha vida. O que me fascina, cativa, reconquista entre os altos e baixos.
Porque isso... Isso só o foste realmente depois de eu te conhecer e compreender.
Como sei que nunca mais outro alguém o fará.

11 de março de 2013

Vinte e duas e quarenta e um

Gosto dos pontos de rotura que me pertencem.
De ter o poder nas mãos, de ser eu quem dita um início, um fim ou uma continuação.

Gosto. Gosto de ter o que quero, de decidir o que acontece e manter-te consciente disso.
Porque não é preciso dizer-te meu, nem é preciso marcar posição, nem é preciso ser dominante.
Basta saberes que é ou não é.